quinta-feira, 21 de maio de 2009

Seminário discute a importância dos Museus para o Turismo.

Por Thais J. Castro
A programação faz parte da 7ª Semana Nacional dos Museus e acontece hoje e amanhã no Museu de Arte Sacra das 19h às 22h. A entrada é gratuita.
Entrevista com Noercy Schurings – administradora, especialista em turismo.
Para o primeiro dia do seminário, O Museu de Arte Sacra convidou a especialista Noercy Schurings para falar do tema. Graduada em Administração de Empresas pela Universidade Federal de Mato Grosso, especialista em gestão pública, gestão de projetos e gestão estratégica, ela desenvolveu trabalhos para a Ong SOS Pantanal e foi mentora do projeto de Desenvolvimento Sustentável voltado para o Ecoturismo em Nobres/MT.
Para Noercy, a inter-relação entre turismo e museus, pode vir a se tornar um atrativo de grande potencial se for bem planejado, pois se acredita que a atividade turística desenvolvida de forma integrada com patrimônios material e imaterial pode, inclusive, servir de agente propagador e dinamizar culturas. Mas ressalta que os museus devem promover meios para salvaguardar e garantir a conservação. Acompanhe a entrevista:
Ação Cultural: O governo justifica a escolha do tema alegando que museus e turismo têm relações bastante estreitas entre si. De que forma isso acontece?
Noercy Schurings: Em primeiro lugar devemos reconhecer que o museu pode converter-se em instrumento para fortalecer as identidades e a integração das comunidades e dos povos, promovendo a tolerância, o respeito mútuo e a aceitação da diversidade cultural. A partir desta premissa o museu deve participar, junto às suas comunidades e operadoras de turismo, no planejamento e definição de objetivos, conteúdos, gestão e formas de promoção, buscando-se integrar aos circuitos do turismo. Obviamente esta aproximação deve sempre levar em conta o saudável aproveitamento do potencial destas instituições na perspectiva de uma atuação que venha de encontro ao principal papel já referido do museu: a questão da preservação de suas referências patrimoniais.

AC: Qual a importância do museu para o turismo?
NS: No momento em que se considera que o turismo é um feito social, humano, econômico e cultural, altamente entranhado nas sociedades em geral, se percebe que o museu pode representar um papel importante como ferramenta turística, pois ele tem como uma de suas funções preservar e proteger o patrimônio para garantir uma análise do desenvolvimento e qualidade de vida das pessoas, no entanto, é necessário deixar claro que o patrimônio deve ser valorizado por sua importância na história ou na identidade local, e não somente como atrativo turístico, para tanto, deve-se pensar na sustentabilidade do mesmo.

AC: Como um museu precisa estar estruturado para atender as funções possíveis a ele enquanto ferramenta de turismo?
NS: Já sabemos por vários exemplos, que visitação em massa traz prejuízo à conservação do acervo, patrimônio da humanidade, face às demandas turísticas cada vez mais emergentes, os museus como ferramenta turística e como centros culturais devem fornecer informação cultural aos visitantes de forma a saciar sua curiosidade sobre a cultura local, porém voltados para sua sustentabilidade, pois este conceito de turismo sustentável está diretamente ligado à preservação e sustentabilidade dos meios naturais e culturais, considerados como atrativos básicos para o turismo de uma região. Assim, através da renovação ou inovação das técnicas expositivas utilizadas, oficinas de capacitação para os seus profissionais, investimento em consultoria nas áreas de museologia e museografia que visam preservar a identidade, missão, desempenho na comunidade em que se encontra inserido, promovendo o diálogo entre seus profissionais e do turismo para que, de forma conjunta, será possível gerir as respectivas atividades, sem provocar qualquer impacto negativo sobre o patrimônio ou à comunidade, entre outras.

AC: Nesta perspectiva, o que podemos falar de Cuiabá e Mato Grosso? Você acha que estamos preparados para atender a demanda turística? Pensando, por exemplo, que a capital seja uma das sedes da Copa do Mundo, o que é preciso fazer para dar conta do “recado”?
NS: Penso que Cuiabá e Mato Grosso ainda não estão preparados para atender uma demanda significativa como sediar a Copa do Mundo. Mas acredito que temos tempo para isso, num investimento preparatório através de estratégias como: qualificação dos museus, dotando-os de infra-estrutura adequada para o melhor atendimento ao turista; qualificação dos profissionais do turismo e dos museus através de capacitação que permita ter uma maior proximidade com o tema turismo e, ao mesmo tempo, desenvolver e implantar estratégias de gestão direcionadas ao setor. E ainda, a divulgação dos museus como atrativos turísticos através de ferramentas específicas para isso.

AC: É diferente a relação estabelecida entre os museus e os moradores de uma cidade e os museus e os turistas dessa cidade? Como?
NS: Sim, para os moradores são espaços sociais trabalham com o poder da memória em diálogo com a sociedade local, permitindo lembranças, reflexões e resgates históricos; já para os turistas, os museus saciam sua curiosidade sobre a cultura local, sua ansiedade por alguma informação básica antes de cumprirem um evento programado, em relação, por exemplo, a existência de recursos patrimoniais, entre outros, assim é razoável imaginar que tais informações devam estar disponíveis, para que, quando o turista chegar ao ponto escolhido, tenha segurança da escolha feita e obtenha percepção clara das características do local.

AC: A imagem de um museu remete muitas pessoas a objetos antigos e nem sempre isso atrai o público. Podemos dizer que isso é um problema? Como reverter esse quadro e tornar os museus mais atrativos?
NS: É um problema. O pensamento de que “museu é lugar de coisas velhas e de mofo” existe e deve ser mudado através de incentivos do poder público e privado com estratégias para desenvolver projetos voltados para o turismo cultural, atraindo assim a atenção daqueles que buscam cultura e lazer concomitantemente.

AC: De que forma o turismo pode estimular a visitação a museus até então desconhecidos e fortalecer a imagem de outros já popularizados?
NS: O turismo pode atrair a atenção para o patrimônio cultural, promovendo sua conservação e valorização. Como diz Azevedo “O turismo, por natureza e essência, implica a busca de diferenças. Diferenças traçadas pela cultura e pelo patrimônio. Ao representar um dos veículos mais importantes de divulgação cultural, o turismo emerge, ele próprio, como instrumento de reafirmação de cultura(s) e de patrimônios singulares”.

AC: O que falta hoje nas políticas públicas de museus no Brasil? O que pode ser feito a curto, médio e longo prazo?
NS: O que está faltando são incentivos como, por exemplo, a curto prazo: turismo cultural; investimentos como recursos de multimídia e outros recursos tecnológicos, capacitação dos profissionais, divulgação; a médio prazo: envolvimento das comunidades e das empresas ligadas direta e indiretamente ao turismo; maior interação entre atividade turística e patrimônio cultural; integração do espaço museológico e turismo através de atividades comerciais agregadas; inovação e criatividade em patrimônio cultural e capacitação de gestores públicos na área de turismo; e a longo prazo: disseminação do turismo cultural na gestão e no planejamento das cidades como sustentação democrática de inclusão turística, através de projetos turísticos, que não só proteja monumentos como valorize as comunidades, onde quer que se localizem e, por fim, a quebra do paradigma no sentido dos museus reavaliarem seus objetivos e preceitos que, muitas vezes, se deslocam em mão inversa à expectativa turística e acabam restringindo sua utilização a fim de preservá-lo.

Baixe aqui a Ficha de Inscrição para o Seminário e envie por email para museu@acaocultural.org. A inscrição também poderá ser efetuada no local.

Nenhum comentário: